sexta-feira, 11 de abril de 2014

A culpa é de quem?

Logo que saiu nos noticiários o resultado da pesquisa do IPEA sobre Tolerância social à violência contra as mulheres,pensei em postar um texto. Cheguei a começar um.
Em meio a este assunto tão complexo, é preciso reflexão.
Se o tivesse feito, postaria com os nervos á flor da pele, no auge da minha vergonha e indignação do resultado de uma pesquisa que aborda um assunto tão triste, sério e frequente em nossa sociedade.
Tomei o cuidado de ler toda a pesquisa, o resumo das questões abordadas. Observei que ainda temos uma nação contraditória, confusa e que ainda é arcaica nos modelos machistas aos quais estamos sendo criados desde que Brasil é Brasil. Da época remota que me enoja. Que começou desde que mundo é mundo. Machismo burro, idiota e covarde.
Ainda temos uma sociedade que concorda que os “homens devem ser a cabeça do lar”. O que seria ser a cabeça do lar? O que pensa? O que paga as contas? 63,8% (totalmente ou parcialmente) dos entrevistados concordaram com isso. Em tempos modernos em que a mulher precisa trabalhar. Não porque financeiramente falando é o que as obriga. Trabalhar as tornaram pessoas que podem enxergar melhor a vida, o futuro. Trabalhar traz autoestima, traz conhecimento. Quem nunca percebeu a diferença de uma mulher que não sai de casa versus mulher que está inserida na sociedade de forma ativa? Não é só trabalhar. É estar envolvida no mundo.
Toda mulher sonha em se casar. Está ai uma colocação um tanto quanto perigosa. Vejo pessoas que vão chegando perto dos 30, se cobrando por não estarem casadas. Casar não é sonho. Casar é opção de vida. É saber que dia a dia terá uma batalha a vencer. A batalha do relacionamento a dois. É estar maduro para isso. Casamento não é obrigação na vida de ninguém. Casamento é antes de tudo, decisão de amar. Não acho que cobrar casamento das pessoas seja um tanto benéfico. Casar é ótimo, desde que não seja para não ficar para titia. Incrível perceber que 78,8% (totalmente ou parcialmente) concordam com essa ideia de sonho. Por isso vemos tantos divórcios, casa- se por obrigação. Já ouvi a frase “antes separada do que para titia”. Será mesmo?
Aos 27,2% (totalmente ou parcialmente) que concordaram que a mulher deve satisfazer o marido na cama, mesmo sem vontade. Fica a pergunta... A mulher é um ser ou um objeto?
Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama. 54,9 % concordaram (totalmente ou parcialmente) com isso. Eu acredito que a questão correta não é essa, e sim: Tem pessoas que estão preparadas para casar, e outras não.
E isso independe de sexo.
O que acontece com o casal, não interessa aos outros. 81,9% concordaram (totalmente ou parcialmente). Sim, o que acontece não interessa mesmo: as conquistas, as alegrias, os problemas financeiros. Alguns egoísmos, outros assuntos necessário sigilo. Agora se a intenção é abordar a violência, interessa sim e muito a sociedade. Vamos esperar quantas mais morrerem para abrirmos a boca diante de uma covardia?
Em briga de marido e mulher, não se mete a colher. 78,7% concordaram (totalmente ou parcialmente). A roupa suja deve ser lavada em casa 89% concordaram (totalmente ou parcialmente). Casos de violência em casa devem ser discutidos em casa. 63% (totalmente ou parcialmente)  concordaram.
E ai a pesquisa se contradiz nas próximas questões: 85% (totalmente ou parcialmente) concordam que o casal deve se separar, quando há violência. E 91,4% (totalmente ou parcialmente) acreditam que homem que bate na esposa deve ir para a cadeia.
Grande é o tamanho desse problema social. Não dá para acreditar que não devemos meter a colher diante de uma violência e concordar que o homem que bate na esposa deve ir para a cadeia. Concordamos que devem ser punidos, mas ninguém quer denunciar... É isso? Continuamos calados em meio à violência doméstica. Esperamos que a iniciativa parta de quem está inserido no problema. Não queremos nos intrometer. E diante do nosso consentimento quantas pessoas perdem a vida, perdem a oportunidade de viver em vida?
É violência falar mentiras sobre uma mulher para os outros. 68 % (totalmente ou parcialmente)  concordaram. É mesmo uma violência e uma falta de caráter. Falta de decência.
E felizmente a maioria concorda que não dá para entender um homem que quebre, rasgue as coisas porque está nervoso com sua esposa. Certas desculpas são muletas para os erros enrustidos.
A mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar. Não pode ser verdade que a maioria da população pense assim! Não a mulher não gosta de apanhar, ela teme pela vida. Ela é ameaçada. Muitas vezes tem dentro de si a sensação de vergonha, de estar diminuída frente a tudo que acontece. Duvido alguém pensar assim, se a mulher agredida se tratasse de sua mãe. 65% concordaram (totalmente ou parcialmente) com isso.
Por fim, 26% concordaram (totalmente ou parcialmente) com a questão: mulheres que usam roupa curta merecem ser atacadas, 58,5% concordaram (totalmente ou parcialmente) que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. Aqui é o meu maior questionamento. O que é saber se comportar?
Criamos homens para comer, para pegar, para tudo, menos para respeitar. Fica uma dúvida e uma lacuna muito grande: estamos falando de seres humanos ou animais? É o instinto que manda no homem, ou o homem que manda no seu instinto? Afinal somos responsáveis pelos nossos atos. Vejo que o percentual ainda mostra uma sociedade machista que culpa a mulher por atos praticados pelo sexo masculino. Tiramos a culpa do agressor e colocamos na vítima.
O que é dar-se ao respeito? Saber se comportar?
Talvez as pessoas que pensam no comportamento da mulher, se esqueceram das bancas cheias de lixos pornográficos. Dos emails poluídos. Da mente perversa que acompanha a cabeça de homens que enxergam uma mulher nua mesmo estando vestida de burca. Isso não depende de comportamento feminino, isso vai muito além.
Vamos educar os homens para serem homens e não bichos. Muitos ao invés de pensar com a cabeça agem alegando que seus desejos são maiores do que sua própria capacidade de controlar-se.  Ainda temos uma sociedade que desconhece os valores de como é tratar um ser humano chamado mulher.
O caráter, uma pessoa, não pode ser definido pelo que se veste.
Enoja-me o machismo, o feminismo e o excesso de imposição em qualquer campo que seja.
Não temos que impor nada, precisamos de respeito e dignidade. Será que estamos formando cidadãos para isso?
A culpa é de quem?

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